terça-feira, 26 de outubro de 2010

34 - As I Call You Down - Fistful of Mercy


Eu gosto de me surpreender com música.
É simplesmente bom demais quando do nada eu encontro uma música nova a ser ouvida, um cd novo a ser descoberto ou uma banda (ou projeto) nova a ganhar espaço nos humildes 4GB do meu mp4 (humildes porque hoje em dia isso é um espaço risível).
Mas há dias em que isso é muito melhor.
Para mim música é um reforço e, ao mesmo tempo, um moderador de emoções: quando estou de muito bem com a vida eu posso escutar uma tarde toda um cd devastador e pesado pra me sentir assim pelo dia todo. Se estou deprê, posso escutar um disco pesado pra melhorar ou um mais leve pra deixar esse momento ruim ir embora e tudo mais.
Mas deixando esse papo emo de lado, fato é que sou extremamente bipolar em se tratando do meu gosto musical. E sendo assim, se meu último disco aqui comentado foi o Selftitle do Wolfmother (que ainda estou escutando) peço que não se surpreendam diante do contraste com esse: o oposto de peso e estilo.

Fistful of Mercy foi um projeto iniciado no começo de 2010 entre três músicos: Joseph Arthur, Bem Harper e Dhani Harrison. Confesso que dos três eu só conhecia o Harper (que inclusive já teve um de seus discos aqui comentados) e foi através da comunidade dele que consegui ouvir o disco. Continuo sem saber direito quem é o tal Arthur, mas o sobrenome de Harrison dá uma idéia de quem é o terceiro cidadão. Sim, Dhani Harrison é filho do ex-Beatle George Harrison.

“Tá, e daí? Ele nasceu com superpoderes?”
Não (mas deveria hehehe).

Não gosto de comparar pais e filhos em nada, muito menos musicalmente, mas o cara manda bem sim. Tem estilo dele e é um bom músico que se juntou com mais dois e fizeram um belo trabalho. O primeiro vídeo que vi da banda foi esse:



A despeito de “In Vain or True” abrir o disco, eu gosto bastante dela. Acho que logo de cara dá pra colocar os fones de ouvido e fazer uma viagem das boas com a calma que ela passa. E o esquema vocal dos caras é brilhante. Característica presente em todas as músicas (exceto em “30 Bones”, já que ela é instrumental - mas ainda assim, minha segunda preferida deste álbum tristemente curto - pelo talento dos caras eles poderiam ter gravado umas 15 músicas!), o trio vocal é de dar inveja em muitas bandas. Não existe estrelismo e cada uma das faixas do disco tem acabamento único. E letras únicas também.

Falando das letras (que eu me dei ao trabalho de tirar no muque, já que não achei em outros lugares – e depois de postar tenho certeza que vai ser a primeira coisa que vou encontrar), é impressionante como os caras conseguem fazer coisas ótimas com letras tão simples. São letras com uma pegada legal, mas que não tem cinco páginas de texto, manja? Falam o que tem que falar e pronto. Um exemplo é “I Don’t Want to Waste Your Time”, em que as quatro primeiras frases (e o refrão, por conseqüência) nada mais é do que “I don’t want to waste your time” repetida quatro vezes.
Música ruim?
Nada.
Eu gostei.

Em "Restore Me" tem um feeling nos vocais que dá arrepio de ouvir. E acho que das letras ela é a mais foda de todas. Desde o começo até o fim da música dá pra imaginar essa música como trilha sonora de um filmaço desses que marcam a vida. Excelente.
Uma das canções mais bacanas do disco é "Things Go 'Round". Há uma versão em vídeo do youtube muito boa de ver em que cada um dos membros da banda assume um instrumento diferente (o que é fora do comum do som da banda, onde o Dhani e o Joseph estão quase sempre de posse de violões e o Ben com sua guitarra no colo (cara, aquilo tem outro nome... eu não lembro qual é...). No tal vídeo o Ben Harper se engata num baixo, o Dhani num teclado, o Joseph na batera e só a Jessy (violinista) permanece no seu instrumento. Mas é uma coisa agradável de ouvir.

Gosto muito da levada de "Fistful of Mercy". Tem algo no timbre vocal de um dos caras (sério, não sei qual é) que deixa ela completamente surreal. É uma coisa que melhora demais o conjunto. Mas falar disso é bater na tecla ali de cima: o trabalho com as vozes no álbum todo. De novo, ressalto: coisa de gênio.

Mais coisa de gênio é a minha preferida:



Quando escutei "Father's Son" pela primeira vez, eu me lembro que fiquei com um sorriso de orelha a orelha de tão boa que ela era. Palmas marcando o tempo, os três se revezando no vocal de uma maneira completamente diferente das outras faixas... Eu queria entrar no mp4 e cantar com os caras essa coisa por décadas. Muito boa.

Ainda recente, tendo em vista que o álbum foi lançado apenas no começo de Outubro (dia 5, precisamente) a banda ainda não é muito conhecida e carece de uma atenção especial. Duvido muito que as gravadoras brasileiras se darão ao luxo de lançar a versão nacional do disco, o que é uma pena.
Esse foi um dos motivos que me levou a atropelar outra postagem pra colocar o trabalho destes senhores no ar.
Escutem a banda (sempre dá-se um jeito, não? hehehe) e divulguem o quanto puderem.
Numa dessas, com um pouco de sorte quem sabe não dá pra se surpreender vendo o disco numa prateleira por aí...
Abraços.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

33 - Wolfmother (E mais um motivo pra cuspir na cara de quem disse que o rock morreu)


Sim, isso mesmo que você leu no título.
Manja aquele cara chato que faz uma cara marrenta toda a vez em que você fala de música hoje em dia?
Sabe aquele cara que anda todo o dia com a mesma maldita camiseta preta, calça preta, bota preta, cabelo ensebado preto, que bebe pra cacete e quer pagar de mauzão?
Enfim, conhece aquele poser filho de uma p$#@ que diz que não tem nada melhor que o Vol. 4 do Black Sabbath (que por sinal é um álbum excelente)?
Esse mesmo.

Então, manda ele escutar Wolfmother.
E se ele não gostar de nada mesmo, mata ele.
Assim ele vai se encontrar com os ídolos dele no inferno e é feliz...
(Hoje tô meio bruto, não?)

Mas toda essa história eu conto porque aconteceu com um cara que eu conheço bem: eu mesmo.
Tirando a parte de ficar de porre (porque eu simplesmente não fico bêbado - não consigo e não foi por falta de tentativa) e ter cabelo preto ensebado, eu já fui todo o resto.
Claro que não foi só o Wolfmother que mudou minha vida; muitas outras bandas entraram na parada (Audioslave, Foo Fighters, Strokes, Pearl Jam, Black Keys... enfim, uma porrada mesmo) e mudaram completamente meu mundo musical. Para muito melhor, eu diria.

E, como meio mundo, conheci a banda por causa desse clipe aqui:



A despeito de gostar de Jackass (e rir muito da burrice daquele bando de cuecas - só macho pra fazer essas merdas... hehehe), gostei da música na hora em que ouvi.
Mas sabe como é... Grana curta, sem internet... Demorou pra colocar as mãos no disco dos caras.
Depois de muita enrolação e procura (sim, foi difícil achar o cd por um preço decente - apesar de já ter, hã... escutado antes por aí...) eu comprei o disco e confesso que na época gostei muito.
Escutei até "furar" o desgraçado, de tão bom que era.

E bem, eu curto "Joker & The Thief". Aquele começo é (como citei há algumas postagens atrás) o começo perfeito. Toda uma introdução (meio longa, mas e daí) boa com os instrumentos aparecendo aos poucos pra que, no final, tudo vire um som puramente destruidor! E que som destruidor!
Antes de baixar e escutar o disco, era a que eu mais ouvia.
Mas ao comprar o disco, o grito de "Dimension" expressa bem o que eu senti. Só aquela abertura do disco é de matar. Bem pra mostrar ao que veio, a banda já começa com uma bicuda na cara. "Dimension" mostra quase de sopetão todo o potencial da banda. Aliás, QUE banda.
A primeira formação é de arrebentar qualquer trio que já vi. O Chris Ross é acho que um dos tecladistas com mais presença que eu já vi. O cara desossa e ainda consegue se sair bem no palco. O Stockdale é muito fodão também (e só - SÓ - cometeu a cagada de trocar o resto da banda, mas enfim...) e toca a guita dele como ninguém, além de ter personalidade vocal. Quase inigualável! E o Heskett é um dos bateras mais apavorantes que eu já escutei. O cara tem, além de um talento enorme, uma presença talvez ainda maior que a dos outros dois juntos!
Eita sonzeira!

Apesar de muita gente não concordar, "Where Eagles Have Been" é uma das que mais se aproxima de uma balada feita pelo Wolfmother no primeiro disco. A letra é muito boa, surpreendente tendo em vista a simplicidade da maioria das letras da banda que costumam repetir um ou dois versos em cada música. Mas aquele solinho no final... Rapaz... É demais! Se fosse apontar e dizer "isso é uma baladinha", contudo, eu apontaria pra "Mind's Eyes". A levada dela inteira é lentinha e até o Stockdale dá uma maneirada. Outra mais leve, mas que não chega a entrar no clima "baladinha" de ser, é "Tales". Aqui a letra também é boa, mas o ritmo muda um pouco. E acaba de um jeito meio estranho.
Mas são boas as três, com certeza.

Uma galera curte "Love Train", mas eu não vejo muita coisa nela. Acho a percussão muito boa e o baixo devastador (mais uma vez, ressaltando a cagada de deixarem o Ross e o Heskett saírem do trio). Aqui a guita tem pouco o que fazer. Sei lá. Parece que falar dessa música é pisar em ovos e prefiro me abster disso por enquanto.

Dá pra encontrar todas as influências da banda em "Witchcraft": desde RPG (sim, você leu certo) até todo o rock antigão. Cara, é só olhar pro riff dessa música... Pra música INTEIRA! É quase se estivesse ouvindo uma música do Led (mas sem os solos bizarros do Page) ou do Sabbath.
Aquela flautinha solando é hilária e tão sutil quanto aparece, ela se vai. Animal.

Deixo para o final as minhas duas músicas favoritas. A primeira me ganhou esses dias quando criei vergonha na cara pra escutar direito o disco. O violãozinho puxa "Vagabond" (uma música dessas carrega tudo o que eu sou só no título, hehehe) e dá pra se permitir fechar os olhos e curtir uma das músicas mais simples e, ao mesmo tempo, complexas da banda. Aqui o meu gostar vai desde a letra (ultra foda, por sinal), passando pelo riff, pelo teclado, pela batera... E pela melodia. Essa música é demais e pago demais pra ela, prontofalei.
E, óbvio:



"Woman" é, indiscutivelmente, a música mais foda do disco.
É soco na cara, rápido e certeiro. Puro rock and roll do começo ao fim. Toda simples também, aqui o lance é o solo conjuto da guitarra e do teclado. Na boa, é um dos solos mais criativos que já vi (e não vou falar do Tom Morello por aqui - todos sabem que ele é tipo o Macguyver dos solos bizarros e que ele faz som na guitarra até com refil de veneno pra mosquito...) e tem uma levada pesadona sem pausa. A música serve, tranquilo, pra "headbanguear" a vontade.
Muito foda.

Citei bastante o meu desgostar do Stockdale e todo o lance de ele montar uma banda completamente diferente pra produção e turnê do Cosmic Egg. Não que eu ache que o disco ficou ruim (não ficou), mas acho o primeiro disco um tanto quanto único e dotado de uma personalidade realmente forte. Os músicos (trio na época) deixaram ali bem impressas as suas identidades e é um cd bom de ouvir. Não cansa e varia bastante. Já o Cosmic Egg me pareceu um  tanto "constante demais". Mas sei lá; pode ser só besteira minha.
Entrementes, mostrem pra os pseudoconservadores do que o rock pós 2000 é capaz.
Quero ver atirarem uma pedrinha que seja.
Abração

sábado, 9 de outubro de 2010

32 - Light Me Up - The Pretty Reckless


Há quem diga que eu sou meio "machista" musicalmente falando. Porque nunca comento sobre bandas de vocais femininos ou sobre vocalistas mulheres com potencial.
Pra ser honesto, tirando a leva das postagens de Março em que falei sobre Sophie Madeleine, KT Tunstall (que superou minhas expectativas recentes com o Tiger Suit), Juliette Lewis e Dead Weather (com os vocais destruidores de Alison Mosshart) eu acabei nunca mais comentando albuns de vozes femininas.
Não que não curta mulheres cantando; mas são realmente poucas as vocalistas que me impressionam. Não é só uma questão de timbre nem nada... mas é o conjunto da obra: letras, presença, interação com a banda e com o público, etc... E um pouco de frescura, claro.

Eu estava pensando há algum tempo em outra moça respeitável para falar aqui e entre as candidatas estão (sim, ainda pretendo falar delas) Duffy, Reeta Leena (da Husky Rescue) e Norah Jones. Mas inusitadamente outra entrou na jogada. O pior é que ela jogou sujo, porque não é o tipo de música (se bem que eu escuto quase de tudo, mas enfim...) ao que estou acostumado a escutar. Uma amiga minha me passou dois vídeos, sendo que o que me ganhou foi esse:



Honestamente nunca tinha nem ouvido falar da moça nem da banda. Mas talvez pelo fato de eu não estar acostumado com muitas vozes femininas interessantes e curtir esse tipo de mulher (cara de menininha psicopata com cabelo rebelde e voz semi rouca) eu fiquei ligadão na "banda", hehehe...
Enfim, a Taylor Momsen faz um papel em um seriado chamado "Gossip Girl" (que eu confesso, nunca vi na vida) e se juntou com Ben Phillips (Guitarra / Backing Vocal), Mark Damone (Baixo) e Jamie Perkins (Bateria) na segunda formação da banda pra formar o The Pretty Reckless. E tenho que dizer que a banda é muito boa.
Começando pelo instrumental. Sem cair na pieguice de fazer coisa fófis só porque tem uma mulher no vocal, o instrumental é puro rock. Não dá pra chamar aquilo de pop nem a pau. E não falo de só um dos músicos; os três cuecas deixam muitos instrumentistas das antigas no chinelo! Mesmo as baladinhas da banda são mais no estilo rock and roll do que "Avril Lavigne" de ser. Show de bola.
E show de bola maior ainda é da Taylor. A moça tem um vocal extremamente massa de ouvir. Não que ela tenha muita potência; nem precisa. A voz dela tem uma personalidade incrível e que condiz exatamente com o tipo de música da banda. Acho que a melhor música pra exemplificar isso tudo é logo de cara a que abre o disco.

"My Medicine" abre o disco bem do jeito que eu gosto: com uma introdução que leva à música de uma maneira progressivamente pesada. Começa ali, com a Taylor acendendo um cigarrinho, dando umas baforadinhas e depois com a banda inteira naquela levada que, apesar de simples, é extremamente boa. Por sinal, junto com "Factory Girl", lá pelo fim do disco, "My Medicine" me lembra muito (mas muito mesmo) aquela levada do rock antigão. Aquela coisa de "I Love Rock and Roll" que fez sucesso a cada dez anos com vocalistas diferentes (exceto talvez pela vez em que a Britney Spears lançou sua versão - se é que dá pra chamar um gato fanho cantando de versão, mas é a vida...). Gostei bastante também de "Since You're Gone", apesar da letra no estilo Alanis Morrissete de ser... É na minha opinião uma das mais bacanas do disco todo e vale escutar bastante.
Também bacana e em uma levada fudidamente legal tem "Goin' Down". Aqui um destaque pra voz da menina e pra o Perkins na batera. Sério, o cara destrói naquelas viradinhas. E todo aquele andamento caprichado é por causa da bateria.

Uma coisa que a banda faz direitinho também, como comentei ali por cima, são as baladas. Gosto da maioria delas. Na verdade de todas elas. "You" por exemplo fecha o disco de um jeito legal (ultimamente tem sido raro as as bandas fecharem seus discos com uma baladinha, preferindo músicas de "peso intermediário"). Mas acima de tudo, nenhuma das músicas lentas se parece com alguma outra. Simplesmente detesto quando um guita qualquer metido a fodão aparece com aquela "fórmula secreta" da baladinha perfeita que deixa todas as músicas da banda com cara de serem exatamente a mesma, só que com letra diferente. Aqui isso não acontece. Acho que das lentas a que eu menos curto é "Nothing Left to Lose", porque a letra é uma coisa mais menininha, e talz (mas a melodia é bacana de ouvir).
De longe, minha preferida dessas é "Light Me Up", que além de uma letra boa pra cacete tem um feeling todo especial. De todas as músicas do disco, essa é minha preferida, sem dúvida.

"Tá, e 'Make Me Wanna Die'?"

Tá aqui, ó:



"Mas só isso??? Nem um comentário???"

Bom, eu gosto dela. Não curto muito o clipe (tirando coisas óbvias - porra, eu sou homem, oras! Se bem que a Taylor seduz qualquer cueca com o clipe de "Miss Nothing" - onde a cara de psicopata dela está mais acentuada - ... Rapaaaaaz...) porque me parece clipe de metalzão auhauhauhah
Ficou bem trash, cheio de fogo e clima pseudo sombrio... Achei desnecessário, na verdade. Mas falando da música, acho ela muito boa. E assim como as primeiras que comentei ali por cima, ela é outra que mostra bastante do potencial e desempenho dos membros de toda a banda. "Make Me Wanna Die" tem uma pegada forte, apesar de achar ela meio fora de contexto no meio do disco (algo nela é diferente das outras músicas).
Enfim, eu gosto.

Quando baixei dei um jeito de ouvir o disco todo acabei baixando uma outra versão ultra power com mais 12 músicas que não estão no Light Me Up ("Zombie" inclusive). Gostei bastante daquele disco também e gostei de ver a banda trabalhando, já que é bem recente e tem mais é que ralar mesmo.
Principalmente pelo trabalho de qualidade.

Bem, Gossip Girl está longe de ser algo que eu vá assistir, mas a Pretty Reckless eu faço questão de acompanhar. Dá uma olhada no material dos caras (e da moça também). Vale a pena.
Abraços