terça-feira, 25 de janeiro de 2011

40 - Sabonetes


Você leitor de outros posts deve ter percebido que eu mantenho uma certa distância de bandas brasileiras. A única banda nacional mencionada aqui foi a Moptop com seu selftitle.

"Mas por que isso, cara? Você não gosta das bandas daqui? Cadê seu patriotismo? Cadê sua garra? Você é um americanizadinho, isso sim!"

Então, sendo bem honesto, eu não vou muito com a cara das bandas daqui não. Salvo Moptop, Cachorro Grande, Efervescentes e mais umas duas ou três mais famosas dessa leva dos anos 2000 eu não curto quase mais nada. Não vejo as bandas brasileiras com muito bons olhos não.
Mas e aí? Já ouviram falar de Sabonetes?

A despeito de eles serem os atuais representantes de bandas que saíram deste fim de mundo chamado Curitiba (aonde eu moro e toco com uma banda também) junto com a Anacrônica, eu gostei bastante do som deles. Os caras estão na estrada a relativamente pouco tempo (desde 2003, acredito) e recentemente tiveram seu cd lançado em São Paulo, com direito a cobertura pela MTV e tudo mais. E apesar de a MTV ter tido um gosto relativamente duvidoso ultimamente, apoiar uma banda como esta foi uma das poucas boas atitudes que vi a emissora tomar nos últimos 4 anos.

Conheci a Sabontes depois de sair de um ensaio da minha própria banda. Fomos em um pub irlandês daqui e os caras estavam tocando por lá. A música deles que abriu a noite foi esta:



"Descontrolada" é uma música legal. E ao vivo é melhor ainda. No começo eu não ía muito com a cara dos falsetinhos ali, mas com o tempo me acostumei e no fim ficou muito bom pra música. Ela é relativamente animada e o que me chamou a atenção aqui (e em muitas outras faixas do disco) é a criatividade do batera. O cara manda muito bem e toca com naturalidade.
O disco não abre com ela. "Nanana" é a que começa o disco com metade da personalidade da banda ali. Ela começa ali na dela só com a bateria, depois vai de verso em verso te levando ao clima do disco todo. É uma música boa de escutar e backing vocals fazendo sua colaboração inicial das muitas do album. "Nanana" é animada e acho que por isso curti.

As animadas são ótimas, então vou falar delas mais pro final. Como eu comentei ali em cima, eu não sou um cara lá muito chegado em bandas brasileiras porque muitas delas parecem ter dificuldade em operar com baladas e/ou músicas mais lentas. Não é o caso da Sabonetes.
"Onde Vai Parar" é um exemplo inicial desse tipo de música. Sou suspeito pra falar dela porque eu honestamente curto demais o estilo daquela guitarra ali no começo. Dá um ar diferente pra coisa (um ar diferente e bom) que mexe comigo de alguma forma. Outra com um efeito parecido pra mim é "Marcapágina". É simples demais, tranquila demais e aquele "tchururu" ali no verso ficou massa demais. O solo é todo bem trabalhado e vale a pena escutar ela até o fim. Tem um jeitão de estilo regionalzão, mas que os caras souberam aproveitar como ninguém. Fora que a letra é uma coisa cotidiana; parece bem uma história sendo contada ali com versos e uma harmonia pra acompanhar. Uma das minhas favoritas.

Mas das lentas não dá pra não comentar "Hotel". Não só por ser (também) uma das que mais gosto do dico todo, mas também porque é inegavelmente uma música ótima. É o tipo de refrão que me faz querer cantar junto (sem contar que ela fica na cabeça; mas é uma canção chiclete ótima). E por mais que muita gente possa discordar, acho que é uma das faixas com mais maturidade do cd inteiro. Parece música de banda com estrada mesmo. Ultra foda.

Mas se o negócio é uma coisa mais animadona e tals, os caras não deixam por menos. "Se Não Der Não Deu", a faixa bônus, é outra que mostra um pusta talento por parte deles. Ela não é exatamente animada, mas tem uma pegada única. Tão única quanto "Nanana" lá do começo. Tão única quanto "Enquanto os Outros Dormem". A despeito de eu gostar do jeitão dela, acho que a letra é uma das minhas preferidas. Tudo bem que o refrão é o título repetido, mas no geral ela fala bastante dos meus últimos dias por aqui. Diria que a letra é nostálgica pra mim.

Numa progressão de "peso" (não são uma banda com um ritmo mais pesado, afinal) temos "Hai Cai". Ela começa não devendo nada e tem uma continuidade boa. Gosto bastante do solo com os vocais lá no fundo ecoando suas frases e "oooouooooooo".
Começando mansa e tomando um ritmo mais acelerado depois ao mesmo tempo em que tem uma letra mais baladinha, temos "Quando Ela Tira o Vestido". O instrumental me parece ser o menos complexo do disco e apesar do disco ter várias músicas num estilo mais pop, acho que esta é a que mais se aproxima deste estilo.

Minha preferida do disco é essa:



Gosto de "Hora de Partir" por tudo o que ela é. A letra é muito boa, o instrumental é animadão, acho que o vocal se destaca bem, os backing vocals não são exagerados e com tudo isso ela ainda consegue ser uma música extremamente simples. Gosto do jeitão dela até na versão acústica (que acompanha o disco como faixa bônus).

E a banda? Bom, de quando em quando os caras fazem seus shows por aqui. Infelizmente nunca tive a oportunidade de dividir o palco com eles aqui em Curitiba (apesar de termos tocado no bar aonde eles costumam tocar e também ter tocado no mesmo evento que eles na metade de 2010), mas todos os integrantes parecem bem humorados e a postura de palco deles é bem humorada e confiante. Os shows por aqui costumam lotar e eles fazem covers excelentes de várias músicas, mas tem seus fãs e dá pra ouvir uma boa parte da platéia cantando as letras do grupo.

Aguardando novidades deles, só me resta encerrar a postagem orgulhoso dos caras daqui estarem mostrando um serviço tão bom.
Mais bandas nacionais e discos novos e antigos serão comentados em breve.
Abraços

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

39 - Abbey Road - The Beatles (porque nunca é tarde pra escutar)


Táqueopariu, que disco animal.

"Você está falando de Beatles, cara! Tudo é animal!"

É, pode ser.
Sem exageros, e opinião mundial, os Beatles foram uma das melhores coisas que já aconteceram no mundo. Não há ser vivo que nunca tenha ouvido nada deles. Não tem como alguém nunca ter ouvido falar em John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo "Napinha" Star. E não tem como eu não falar de qualquer coisa deles aqui, sendo este um blog que fala de bandas da minha vida.

"Mas vem cá: tu é fã mesmo?"

Não.
Fã mesmo é o Rafinha (um amigo meu e um dos guitarristas da banda com que eu toco) que sabe todas as letras, cifras, solos, histórias e biografias.
Eu curto os caras. Simples assim. Sempre curti, mesmo quando estava na fase das trevas, quando só escutava seis bandas horríveis e achava que era música.
Fui saber o que era Beatles muito pequeno, quando assisti Timão e Pumba e o Timão cantou "Stand By Me" (que é do John Lennon, eu sei). Minha mãe parou do meu lado (eu tinha uns sete anos) e ficou lá dizendo que a banda era demais, e que eu deveria ouvir a original e tudo mais. Escutei outras músicas deles com o tempo, mas quando eu tinha 12 eu vi esse vídeo aqui em uma certa convenção na minha cidade:



E foi aí que juntei a fome com a vontade de comer (pra quem não conhece, essas cenas são de um anime chamado "Cowboy Bebop" e vale cada minuto dos 26 episódios que tem; fora a trilha sonora espetacular de puro blues). "Yesterday" mexe comigo sempre que escuto, desde então.
Mas e o Abbey Road?

Eu confesso que nunca tinha me interessado muito por ele não. O primeiro disco que comprei dos caras foi o One, que era uma coletânea de hits (e hits o Abbey Road não tem muitos). Curti o cd por um tempão, mas então veio uma curiosidade maior pelo trabalho deles. Fui comprando os discos aos poucos e não tem nenhum do qual eu não tenha gostado. Há claro, aqueles que eu ouvi pouco, mas nenhum é ruim.
Antes de postar sobre a banda eu iria falar do White Album, porém um colega de trabalho me recomendou fortemente o Abbey e eu fui atrás dele. E não me arrependi.

O disco abre com "Come Together" e essa é uma das minhas favoritas sem nem precisar tocar alto nem nada. Ela é uma música simples, com uma levadinha de blues tranquila e letra estranha (como no resto do disco inteiro) e boa. A maneira como ela soa não é padrão no disco; aliás, o disco não tem sonoridade parecida com nada: exceto pelas "músicas que são uma só" (ver mais pra frente), nenhuma música se parece. Ao mesmo tempo, todas são a cara dos Beatles.
"Here Comes the Sun", por exemplo. Aquela música é exatamente tudo o que "Come Together" não é. É quase uma música hippie. Nem só pelo nome, mas não dá pra não relaxar quando aquela coisa começa. É quase uma abertura de desenho da Disney. No Rock Band essa música toca na abertura; vale a pena ver (e vale a pena jogar o jogo também).

Se alguém pediu uma balada, os caras tem "Oh! Darling" como prova de que mesmo em um disco de letras que não fazem sentido, há o que se parar para admirar como quase poesia. A despeito das recordações que ela me traz ela é uma música fantástica. No vocal certo ali ela arrepia qualquer um.
É uma coisa muito melhor e menos repetitiva que "I Want You (She's So Heavy)". Tudo bem querer alguém, mas imaginem senhoras uma letra que diz "eu te quero, te quero muito, eu te quero, te quero muito..." indefinidamente por 7 minutos... Dessa música o que vale é toda a variação instrumental (que muitos podem dizer que não é muita, mas eu acho bacana).
Numa levada similar e tensa temos "Because". Sério, aquela música tem um "quê" sinistro que me surpreendeu (tendo em vista que vem justamente depois de "Here Comes the Sun"). A intenção dela é de ser uma baladinha, mas ela soa medonha demais pra encantar uma dama...

Uma música de ritmo gostoso e letra fumadinha é "Octopus's Garden". O ritmo é todo um conjunto do já instrumental clássico da formação dos Beatles adicionados de um bom piano e os (também clássicos) backing vocals marcando presença na música.

Se alguém lembra ali de cima eu mencionei "músicas que são uma só".

"Sim, e que me#$@ vem a ser isso?"

Quando comprei o disco fiquei feliz em ver que ele possuía 17 músicas. Mas quando escutei no silêncio do meu quarto e tranquilidade do meu lar eu só notei a passagem das músicas até um certo ponto do disco. A partir de então algumas músicas parecem tornar-se uma só. Isso acontece pro fim do disco e com dois grupos diferentes de músicas. O primeiro grupo vai das músicas 9 ("You Never Give Me Your Money") até a  13ª ("She Came in Through the Bathroom Window") e é o mais variado.
Começando pela nona música, "You Never Give Me Your Money" parece contar uma história de rompimento. Sozinha, ela muda de ritmo duas vezes (e sempre pra melhor, na minha opinião). Seguindo na cola, "Sun King" tem uma levada diferentona e quase psicodélica. "Tá, mas a história do rompimento continua?". Não. Ela é só estranha e ponte pra "Mean Mr. Mustard" que fala a triste história (mas com ritmo animado - os Beatles certamente estavam loucaços quando escreveram estas letras) de um mendigo velho. Disso "Polythene Pam" fala de uma mulher bonita que parece homem e segue para o desfecho do conjunto que começa num embalo destruidor. Sim, "destruidor" é como começa a música de título "Ela Entrou Pela Janela do Banheiro". A música fica numa levada mais calma depois, mas aquele começo é muito fodão. A letra fala do relacionamento estranho entre a moça e o policial que larga o emprego. Ela o ajuda dizendo que podia afanar uma coisa aqui e outra ali, mas que nunca roubaria.

(Ufa)

O segundo grupo de músicas é mais curto. Começa em "Golden Slumbers". É uma música de melodia e letra bonitas. Eu pelo menos achei. Parece falar de conforto. Mas aqui há uma parte surpresa: lá pelo fim da música ela volta ao ritmo e estrutura de "You Never Give Me Your Money". A letra se mantém na mesma linha também e já emenda com "Carry That Weight". É uma música curta e a letra se resume a apenas um refrão.
Chegando a um dos melhores fins de disco de todos, "The End" tem tudo o que precisa pra fechar o Abbey Road com chave de ouro. Um começo com a pegada mais pesada do disco (que no fim é um disco leve) levando a uma melodia simples e uma letra tão pequena ou menor do que a anterior, mas com a frase mais bonita do disco.
Sublime.
Demais.
Ultra foda.

"E foi essa música que te ganhou o disco?"

Não. A música que me ganhou foi uma que eu tinha visto esse clipe feito por um louco qualquer, mas que é, no mínimo, engraçado hehehe:



Nunca que eu iria imaginar antes os Beatles escrevendo a história do carismático Maxwell Edison e seu martelo de prata (nada mais do que um simbolismo de Paul pra seus momentos frustrantes da época - e que me fizeram pensar muito sobre o lado psicopata dele) em uma música que viesse a ter uma letra tão estranha.
Mas nem foi a letra e a história. Foi a levadinha toda alegre da música.
Se você é daquelas pessoas que simplesmente não presta atenção na letra enquanto escuta uma música dá até pra dizer que é uma música "legal e bonitinha". Eu simplesmente adoro ela. Quando vi este clipe aí então...

Ah, é bom falar de Beatles.
Estava há alguns dias comentando com uma amiga como eles são uma coisa que ultrapassa as gerações de forma quase inigualável (talvez apenas ao lado dos Stones, Zeppelin e poucas outras com tanto prestígio e idade). E merecidamente, a banda foi algo extraordinário. Quando me imagino nascendo em outra época, certamente gostaria de ter chegado ao mundo cedo o bastante pra ver um show deles.

Sir Paul McCartney veio às terras brasileiras no fim do ano passado levando euforia satisfatória a todos os que foram aos seus shows (uma aluna minha chegou a fugir de casa pra ir ver o cara). Sendo parte dos 50% da formação da banda que ainda vive, o cara mostrou pra todo mundo que acredita que ele está vivo que ele está muito melhor do que isso. Foram três horas por show de um músico em pleno controle de seu talento tocando as canções de sua carreira solo e com os Beatles. Excelente.

Por fim, esta foi minha maneira de abrir o ano para o Zumbidos.
Espero que você que é novo venha apreciar um pouco da minha modesta jornada musical através destes discos e que possa sugerir outros caminhos para esta jornada.
Até mais, e bom 2011 (tarde, mas que veio)