sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

41 - Slash (and Friends)



A princípio eu não ía comentar o disco. Um grande amigo meu e companheiro de banda, o Lex, falou sobre ele brevemente em seu próprio blog (Porque Pensar Faz Bem) e achei um tanto quanto “paga pau” falar do mesmo disco. Mas a medida em que fui escutando o álbum com o tempo se tornou inevitável eu mesmo tecer meus próprios comentários e impressões sobre este disco incrível.

E eu ainda acho que “incrível” chega a ser um adjetivo raso pra definir o álbum do Slash.
E a primeira frase tabu do post é: eu não consigo gostar de Guns. Não seu se é por não ir com a cara do Axl ou simplesmente não gostar da banda, mas o fato é que nunca fui dado a ficar por aí cantando “Welcome to the Jungle” (sim, é uma música ótima, reconheço) ou qualquer outro grande hit da banda. E pra mim até uns anos atrás o Slash era “apenas” o guitarrista da banda. Tudo mudou, entretanto, quando me atrevi a escutar Velvet Revolver.
Ah, pra mim o Velvet era banda de macho. E lá no meio quem estava? Slash, o próprio, em cartola e cabelo gigante. Foi escutando Velvet que vi o quão bom ele era. De longe uma das minhas favoritas do Velvet (e que me ganhou a banda na época) foi essa:



Infelizmente, assim como ocorreu com muitas outras bandas das quais eu gosto, o Velvet encerrou a carreira (reza a lenda que temporariamente). E eu me senti órfão da banda (tá, foi bem menos dramático do que isso, mas era uma banda massa e eu gostava, oras) sem muita coisa além das outras 452 bandas que apareceram. Mas a despeito de tudo isso, o fato foi que junto com o Velvet o próprio Slash sumiu também. Ouvi uma coisa ou outra sobre ele tocar pra alguma banda random, ou pensar em um projeto solo (ao mesmo tempo em que Axl decepcionava milhões de fãs ao redor do globo com um album atrasado e ruim; não há como negar. Ou algum fã obcecado vai me dizer que se contentou com o Chinese Democracy como achou que se contentaria? Duvido. O Appetite for Destruction é bom e o resto é papo).

Independente disso, fato foi que do nada me apareceram posts, comentários, boatos e links falando ano passado de um disco do Slash solo. Eu nem me animei muito porque até então achei que fosse ser um disco ou instrumental com ele tocando riffs ultra mirabolantes (que não soam tão legais em discos instrumentais) ou um disco com ele tocando e cantando. Nunca ouvi ele cantando, mas não sei como seria isso num disco solo.
Pois bem, esqueci o bendito disco até que ele foi lançado em meados do ano passado com o nome "Slash & Friends" (e como o próprio Lex comentou no blog dele, não entendo porque na versão nacional o "& Friends" sumiu...) e rumores sobre como o disco tinha ficado foda e tudo mais. Assim que vi o nome do disco eu tive um pressentimento de que o album prometia. Imagina o naipe dos "amigos" do Slash!
Assim sendo, quando pela primeira vez coloquei meus ouvidos nele, tudo mudou. Mudou porque os amigos dele são praticamente os caras mais fodas do mundo da música (e, sim, o Dave Grohl está no meio hehehe).

Nas palavras de um amigo meu: "o Slash parece ter pensado em 20 vocalistas fodões e criado uma música perfeita pra cada um cantar". Porque é exatamente assim que o disco é; uma coleção de músicas ótimas (em puro rock, com riffs destruidores) interpretadas por vocalistas de talento cantando em seus melhores feelings. É quase... é como se... é... Animal!

"Tá, seu mané, além do Dave Grohl quem mais canta no disco?"

Bom, eu começo pelo começo. "Ghost" é estrelada por Ian Astbury (Riders of the Storm; The Cult) e abre o espetáculo de forma sutil. O vocal grave do Ian vai dando um charme pra introdução e a partir daí, meu amigo... A música fica tão boa que até pra jogo foi (Rock Band, se não me engano). e quanto mais ela chega pro fim, mais empolgadão o Ian fica.
Pulando uma música, algo que excedeu minhas humildes expectativas. Sim, porque quem vê a Fergie cantar com o Black Eyed Peas deve concordar que aquilo é um desperdício vocal... Aquela mulher tem uma voz incrível (e não só a voz... lá lá lá...) e apesar de ter seus momentos fodões no BEP eu sempre quis vê-la cantando música melhor. Pois bem, senhoras e senhores... Tó (se você sofre do coração, apenas continue lendo, sim?):



"Beautiful Dangerous" ainda mostra pouco do que a moça pode fazer com a voz; mas ainda assim a música é boa e nem comento do clipe.... Na edição nacional do disco ainda há outra música cantada por ela (juntamente com Cypress Hill), um cover de "Paradise City" numa versão parte rap, parte rock, que ficou legal apesar de não ser exatamente minha praia escutar rap (salvo Gorillaz e um ou outro rapper perdido por aí). O grupo deu uma cara muito diferente pra música do Guns e a Fergie abusa dos agudões.
Existe coisa bem melhor do que isso no disco, mas já me pronunciarei a respeito.

Por hora, vale dizer que o disco tem coisas inacreditáveis. Dois dos meus vocalistas favoritos atuam no disco e é falando do Stockdale (Wolfmother) que eu jogo "By the Sword" na roda. Sério, o que é aquele começo? É um tesão no início aquele violão e chimbal no clima mais desertão que existe. Nisso o cara me começa a cantar naquela voz que é só dele... e a música parece então ter fugido de algum disco do Wolfmother.
"Promise" tem um clima bem diferente, mas faz o Chris Cornell (Temple of the Dog; Soundgarden; Audioslave) mostrar bastante do que tem. Achei aquela música bem a cara do Carry On e o que o Slash fez com ela é formidável. Eu não sei bem se o que ele faz no meio de alguns dos versos tem um nome, mas são palhetadas diferentes que dão pro conjunto da obra uma cara única. E aquela letra... Simples e ultra foda. Curti pra cacete.

Falemos do lado mais pesadão do disco.
É musicalmente foda demais o instrumental de "Nothing to Say". Lembra lá do começo daquele lance de como o Slash fez músicas perfeitas pra cada uma das vozes do disco? Não há fã de Avenged Sevenfold que vá colocar defeito nela. M. Shadows deve ter se sentido em casa cantando essa música, porque é a cara das músicas da banda dele. E aqui um dos solos mais destruidores do disco.
Mas falando a real? Se você fosse querer fazer uma coisa com rótulo "ROCK INSIDE", quem você chamaria pra cantar? Um cara que tem esse rótulo na voz só de dizer "bom dia"?
Mesmo eu chutaria o Lemmy (Motorhead) como uma das respostas mais óbvias. Sério, aquele cara tem rock na aura dele. E, vatomanoc..., o que é "Doctor Alibi"? Acho que poucas parecerias do disco ficaram tão fodas quanto essa. Se eu disse que "Nothing to Say" tem um dos melhores solos do disco, eu escrevo em cima que o MELHOR é de "Doctor Alibi". Disparado. E a voz do Lemmy é... a VOZ DO LEMMY, CARA!!! Mesmo eu que nunca fui de procurar saber muito do Motorhead acho esse cara um dos sobreviventes do Rock 'n' Roll de nível épico...

E se vamos citar níveis épicos, impossível não citar a música cantada pelo cara eu disse uma das melhores frases de 2010 ("Who the f@ck is Justin Bieber?"). Sim, até mesmo o Ozzy (Black Sabbath) empresta sua voz à "Crucify the Dead". Esta, assim como "Promise" soa mais como as do projeto solo do Ozzy do que uma do Sabbath. Não é uma das minhas favoritas, mas gostei dela o suficiente pra citar ela por aqui (falou O crítico fodão de música hehehe).
Uma que me desapontou, por outro lado, foi "Watch This Dave". Pô, o Dave e o Duff não tocaram metade; não, nem um terço do que podem tocar... Quando vi no encarte os dois participando juntos (e com o Dave na batera) minhas expectativas foram lá no alto. Não é uma faixa ruim do disco, não levem a mal, mas o trio poderia ter feito algo muito, muito melhor...

(Cara, que post longo este está se saindo...)

Bem, sendo o Slash um cara sábio, com feeling, talento épico, renome mundial e com ouvido bom (todos adjetivos bem óbvios, eu sei) ele não deixaria o disco sem baladinhas. E as que ele fez... Olha... não só pelos intérpretes, mas pelas composições...
Adam Levigne (Maroon 5 - outra banda que curto justamente pelas baladinhas) faz o que faz de melhor em "Gotten". Novamente aqui parece que o Adam deve ter se sentido cantando com a própria banda de tão natural que ela parece. Bem pop (exceto pelo solo, bem do jeito que o dono do album gosta), bem tranquila e com profundidade atômica. Essa é a "Gotten".
Mas minha favorita é outra. E sendo franco, eu não a teria notado sem ajuda no meio de tantas outras. Veja bem, durante todo o cd os nomes que participam são incrivelmente famosos; de Lemmy à Fergie, de Ozzy à Dave Grohl... Então me peguei olhando pra um nome e pergintando: "quem é esse Myles Kennedy? De onde esse cara surgiu?". A resposta? Eu ainda não sei. Por cima só sei que ele já tinha feito uma ou duas participações no Velvet e que tocava em uma banda chamada Alter Bridge (que, confesso, não conheço). Mas é só você escutar as músicas que ele canta pra ter uma noção do quão bom ele é. "Back from Cali" é legal de escutar e tudo mais... mas "Starlight":



Esse cara tem feeling pra dar, vender, produzir e conquistar 25 territórios a escolha! "Starlight" chega a me arrepiar quando escuto e o mérito vai da combinação de talento e sentimento tanto do Myles quanto do Slash. Sério, minha favorita absoluta do disco todo. Fora que quem está seguindo como vocalista oficial do disco (já que não há meio viável de reunir praticamente 20 super astros pra uma turnê mundial) é o próprio Myles cantando de tudo que o show pode proporcionar, de Guns passando por Velvet, trabalho solo do Slash e mais o que vier. O cara é foda.

"HEY, O DISCO É DO SLASH, LEMBRA???"

Verdade.
Posso ter passado praticamente o post inteiro citando nomes e mais nomes que aparecem no disco, mas o mérito final é do dono dele. Afinal, foi ele quem compôs as músicas, foi atrás das parcerias, elaborou harmonias estruturas e fez um trabalho de qualidade. O Slash sozinho (modo de dizer) em 2 anos fez o que o Axl não fez em mais de 10: um album excelente, que agrada a quase todos os públicos, com identidade musical e versatilidade.

Ele vem pro Brasil este ano (e por milagre, vem pra minha cidade também) e vou me esforçar pra ir ver de perto tudo o que puder pra curtir o show dele de perto (ou não tão de perto, já que ingressos de áreas vips já se esgotaram há algum tempo...) e cantar todas as músicas alto.
E independente de a Velvet Revolver voltar ou não - e vou dizer que não acho provável que volte - pelo menos seus membros antigos estão fazendo valer o recesso.

Perdoem a postagem longa, mas esse disco me pedia pra ser postado já há algum tempo hehehe.
Abraços e até mais